sábado, 31 de janeiro de 2009


Sábado 31 de janeiro de 2009
MEA CULPA
O Café Aroma é ponto de parada dos turistas que, entre o Portão de Brandemburgo e a Catedral de Berlin, refazem-se das três horas de visita guiada livre. Ali à espera de um cappuccino com croissant escuto a chamada pelo nome: Roberto! Do meu lado passa para receber seu pedido um homem que de repente faz estralar a minha imaginação de memória. É preciso salientar que imaginação de memória tem a ver com uma idéia sobre o passado e não um registro documentado de um fato passado. Olhei e disse para meus botões com a lembrança afetiva de 13 anos de idade: O Roberto, marido da Luciana. Não! Não pode ser! É o filho do Roberto com a Luciana que é igual como o pai quando eu conheci. Esperei ele se acomodar em uma mesa e me aproximei. A guia do grupo dele conversava com ele e o amigo dele. Ela em pé falando, eu de pé ouvindo, eles sentados respondendo. Quando ela se afasta em meio aquela multidão que lotava o lugar eu arrisco! Perdão!Tu, veio do Brasil? Ele responde que sim. Tu és filho do Roberto França? Ele acena afirmativamente. Ó Deus, tu és como era teu pai 35 anos atrás, quando eu o conheci. O mesmo olhar sorridente. O que ele responde então? Ah. O que ele poderia ter respondido se de fato isso tivesse acontecido? Eu, na verdade tentei em meu inglês sofrível, que dá pro gasto perguntar se ele é do Brasil. Ele é da Espanha. Ainda penso comigo: teria ele perdido a própria identidade e se encontrado como um espanhol? Precisei aceitar de certa forma com dificuldade que aquela pequena gafe talvez seja o que me identifica na repetição dos enganos que cometo por querer sempre estar certo de tudo.
Berlin é indescritível
He, He, He. Mas, eu posso pelo menos tentar descrevê-la. Tem de esperar a cidade escurecer para ser ainda mais bela quando se ilumina de vermelho da luz neon. Sentir que a cidade é grande. Azulejo da estação do metrô, ouro na cúpula do prédio, vãos do muro destruído que é a queda em construção. Taça de vidro na luz branca ao lado do veludo vermelho do sofá no café do museu de arte onde vi Nefertiti. E, outras tantas relíquias com mais de quatro mil anos de idade. A guia de turismo, sua voz firme animando, convicta das palavras. E de novo, as jóias do Egito Antigo. Ostentação, luxo, Mercedes, Semana da Moda, Vitrinas das grifes, Casa de Anne Frank, Centro Cultural Alternativo. Tem de entender porque dois lados opostos insistem em se harmonizar. É deslumbrante, é pulsante, e surpreendente por muitos e diferentes aspectos. Pela arquitetura, pela diversidade, pelo monumental, pelo contraditório.
Imaginem que os criminosos e loucos fossem soltos em uma cidade com a única condição de que não houvesse por parte deles invasão ao outro. Que os loucos fossem loucos para si e para os que assim os quisessem e, os criminosos, cometessem seus crimes de forma indireta pelo oportunismo, anônimos. Talvez, alguma coisa assim aconteceu em Berlin.
Passei pelas calçadas, vi Berlin pelo avesso. Dentro de Berlin vi a Berlin da calçada. Aqui onde estou; na meia hora que me separa de Berlin eu posso ver Berlin ainda dentro de mim. E no trem, e em um Café, quando olho através da vidraça vejo o que Berlin não vê. Eu vejo Berlin passar.
Achei uma frase: I Love Money. O site do pintor é
www.luxxus-berlin.com
Amanhã eu penso no quanto eu vi e aprendi neste mês de Alemanha e no quanto ainda tenho que viver nos dias de viagem que me resta. E, imagino a aventura de encontrar a cidade de Paris, e Londres, Amsterdam, e a Itália. Ufa, quero forças...
O café da manhã aqui do albergue estava muito bom. Teve suco, queijos, pães, mel, geléias, manteiga, café, leite, iogurte. Sadio e gostoso. Sem tumulto porque é baixa temporada e aqui é um lugar afastado onde no verão se pratica esporte aquático.

ENFIM BERLIN

Enfim Berlin
Sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Não é por nada, mas eu já estava cansando de Düsseldorf. Depois de quase trinta dias na mesma cidade as opções acabaram se tornando repetitivas. E, habituar-me voltar todo dia para uma casa estranha me fez perceber detalhes que a primeira vista não era perceptível. A sujeira do quarto, por exemplo, a falta de esponja na cozinha e do detergente de louça. As pequenas coisas do cotidiano, enfim, que só se admite aturar quando se trata da própria casa. E em casa alheia não nos compete reclamar. Afinal ali eu era só um hóspede.
Reconheço, porém, que sem a experiência da neve e da rotina daquela cidade, dos seus itinerários, dos seus mercados, do modo de vida alemão, que eu tive oportunidade de tocar eu não conseguiria optar hoje por me albergar, dividir quarto com algum estranho e assimilar as informações da maneira como eu pude fazer na solidão no meu quartinho na casa de Frau Clemens.
Ontem comemos nhoque do Fortuna, Cristina Poli, seu “habib” e eu. Foi uma noite com muita conversa. Vida, Arte. A Cris criou um delicioso molho com cogumelos e berinjelas. São amigos queridos agora deste lado do planeta. Contratei um taxi que me apanhou lá as 3 e 45 da madrugada, até Hauptbanhof. Depois de atrasos no embarque por me confundir com o “gleis”(portão de embarque) cheguei até o aeroporto de Köln e no avião da AirBerlin voei para Berlin. Da belíssima estação de trem vim para o albergue onde estarei até dia 5, dia de ir a Paris. O frio aumentou e a neve cai de vez em quando deixando pequenos montes gelados pelas calçadas. A cidade chamou atenção pela impressão de um urbanismo cosmopolita. Eu intuí certa informalidade nos berlinenses. E um detalhe que não via em Düsseldorf: leitores nos trens.