segunda-feira, 24 de junho de 2019

Exposições de Arte são para mim?


Exposições de Arte são para mim?
Sim. Exposições de arte são para todos. A arte é o ofício do artista que a produz para ela comunicar de diversas formas, instigando, provocando a sensibilidade humana. A arte é o exercício da liberdade humana em um mundo possível. As exposições de arte são para criança, adulto, idoso, estudante, trabalhador, aposentado, médico, operário, alguém apaixonado, triste, ninguém, desiludido, professor, dona de casa, avó, tia, mulher, homem, feminista, negro, gay, capitalista investidor, crítico de arte, turista, amigo do amigo, político, empresário, pobre, analfabeto, milionário, traficantes e usuários, doentes e sãos, deficiente físico, cego, surdo ou mudo, casado, divorciado, solteiro, ladrão, assassino, tarado, inocente ou culpado, corrupto, reacionário, anarquista, de esquerda, de direita ou politicamente alienadas.
As exposições ocorrem na maioria das vezes em centros e instituições culturais, museus, galerias; e costumam ser públicas, ou seja, não é preciso pagar nada para visitar. Por serem locais que abrigam arte e têm manutenção de forma a não prejudicar alguma obra, os ambientes são normalmente limpos e arejados, portanto, é agradável de estar ali. Algumas exposições ficam localizadas em bairros interessantes da cidade, nos espaços têm muitas vezes uma pequena loja de souvenirs, ou café, sendo que se torna atrativo frequentá-las.
Recomendações são necessárias e nos ajudam a fazer da visita uma experiência proveitosa. Vou usar como exemplo uma ida recente que fiz à mostra que narra um pouco da história do Atelier Subterrânea, de Porto Alegre, a partir do conjunto de obras existente no acervo do MACRS, oportunizando que o público possa perceber um pouco das trajetórias seguidas pelos artistas.
As peças mostradas foram produzidas em diferentes técnicas: desenho, vídeo, objetos tridimensionais, pintura, gravura. A Galeria Xico Stockinger é também conhecida como Galeria Branca, pois suas paredes são brancas, o piso é branco e o teto também é branco, para que a luz pareça neutra no ambiente enfatizando o que esteja exposto. Da porta de entrada é possível enxergar todo o local expositivo, o que já nos dá a noção do que temos pela frente. Ao lado da porta e antes da escada tem um texto na parede. É a minha primeira recomendação de visita a uma exposição de arte: ler o texto de apresentação. Li o texto atentamente, vejo que ele foi pensado e escrito para comunicar resumidamente epara ajudar a entender qual é a proposta dos curadores. A segunda recomendação é a de manter os braços e mãos seguros. Geralmente, quando tenho a tentação de tocar em uma obra exposta eu me controlo e, com as mãos para trás, agarro uma mão com a outra mão sem soltar, ao mesmo tempo em que coloco minha atenção para o olhar, sem distração. É preciso dizer que se todos que apreciam um objeto artístico o tocassem em pouco tempo certamente ele estaria danificado pelo manuseio. Outra recomendação é observar as etiquetas perto do que está exposto, e assim conhecer melhor sobre a história da obra, seu autor, data em que foi produzida e origem. A exposição é eventual, portanto, as obras vieram de algum lugar e provavelmente voltarão para o lugar de origem. A origem pode ser o atelier do artista ou algum acervo de colecionador, ou ainda uma instituição,outro museu, uma galeria. É possível fazer o exercício de imaginar onde essa obra estaria para além do lugar onde se encontra atualmente. Eu me surpreendo pensando em lugares inusitados de quadros e objetos expostos. Também os artistas e curadores pensam em possibilidades expositivas para realizarem suas escolhas de obras e espaços[1]. Algumas vezes, quando o tempo permite ou a mostra exige equipes de curadores, artistas e profissionais discutem e planejam conjuntamente desde folhetos, comunicação, catálogos, projeto educativo, projeto expositivo e de montagem em detalhes. Tudo para que o trabalho resulte numa experiência significativa para o público, pois a verdade é que sem o público que a perceba a arte falha na sua função comunicativa principal. A quarta recomendação é silenciosa. Especialmente em se tratando da obra de arte visual onde existe a intenção de expressar pela imagem, para que possamos interagir com ela uma mínima contemplação é exigida. Quando eu paro de pensar diante de, por exemplo, um quadro ou escultura e deixo que meus olhos façam uma “leitura”, eu abro a possibilidade para essa interação sensível. Ruídos ou conversas altas atrapalham. Por último, devemos verificar se no próprio local expositivo existe alguma informação, algum cartaz, recomendando quanto ao uso de celular, fotografias, alimentos durante a visita.
Existem muitas razões de ser das exposições de arte. Razões artísticas, históricas, sociais, econômicas, políticas, são algumas delas.  As exposições existem para consagrar o nome do artista, para que algum comprador possa ver uma obra sua e adquiri-la, para qualificarem o currículo de curadores que poderão ampliar o campo de atuação,existem para promover o trabalho de montadores e profissionais ligados à área cultural. Também existem para que as exposições de arte sejam experiências que valorizem a instituição, especialmente se as mesmas contam com nomes importantes do meio artístico[2]. Exposições de arte propiciam questionamentos e aguçam ideias estéticas. A arte permite a reflexão sobre o mundo e você pode pensar o que quiser de uma obra de arte. Pode rir ou chorar, debochar, desprezar, temer, desejar, amar, odiar, ignorar, menosprezar, subestimar, bajular. As exposições de arte são momentos de interação e contemplação, mediando as mais diversas desigualdades e conflitos através do fenômeno artístico. Quando alguém é tocado na sua sensibilidade pelo que a arte expressa uma potência transformadora é eternizada.

O Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul – MACRS, Galeria Xico Stockinger fica na Rua dos Andradas, 736, 6º andar da Casa de Cultura Mario Quintana. A curadoria que escolheu as obras e documentos expostos foi de Alexandre Santos, Marilice Corona e Neiva Bohns. É só chegar. Adauany Zimovski, Antônio Augusto Bueno, Gabriel Netto, Guilherme Dable, Gustavo Pflugseder, James Zortéa, Jorge Soledar, Lilian Maus, Luciano Zanette, Rodrigo Lourenço, Teresa Poester e Túlio Pinto. A abertura ocorreu dia 21 de março de 2019, às 19h, até 30 de junho de 2019, de terça a sexta das 10h às 18h, sábados e domingos das 12h



[1] GONÇALVES, Lisbeth Rebollo. A exposição de arte: conceituação e estratégias. In: GONÇALVES, Lisbeth Rebollo. Entre cenografias: o museu e a exposição de arte no século XX. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/FAPESP, 2004.A partir do século XX, os museus passaram a utilizar paredes brancas, a realizar exposições temáticas. A importância do curador também é tema de reflexão, bem como a receptividade do público a essas novas formas de exposição.
[2]RUPP, Bettina. O curador como autor de exposições. In: Revista Valise, v.1, n. 1, ano 1. Porto Alegre, julho de 2011. Para saber mais sobre intenções curatoriais e as propostas de legitimação, projetos e temáticas artísticas.