domingo, 7 de outubro de 2012

Diários de Classe das Redes Sociais


Num sábado pela manhã passei conhecendo os Diários de Classe de Santa Catarina, da Paraíba e da Bahia, publicados em redes sociais. O ex-aluno Fernando comentou elogiando, então me interessei em ver. Alguns elogios e outras críticas. Certamente, sem a pretensão de eu legitimar uma ou outra, quando a manifestação inteligente através da linguagem se expressa essa é mil vêzes preferível à violência física. Disse violência física, não contra as pessoas, que é abominável, mas ao patrimônio público, como em casos de pixação, de vandalismo e de quebra-quebra. A palavra pode ser perigosa. Forças repressoras e ditatoriais justificam seus atos pela reação à manifestação livre das ideias, e isso não é nenhuma novidade. Direitos humanos, proteção à crianças e adolescentes, respeito à diversidade são novidades no Brasil. Por detrás dos Diários de Classe dos alunos, percebo o desvelamento da possibilidade de interagir coletivamente, trazendo às claras o cotidiano das escolas, suas necessidades, as mazelas, as vitórias, as qualidades. Há que avançar no processo. Se o comentário é sobre a mesa do professor que está quebrada, tem de se pensar que essa mesa seja talvez desnecessária, por isso se quebrou. Talvez uma poltrona confortável seja mais adequada e útil, para quem passa 40 ou 60 horas na escola, do que uma mesa. A grade precisa de conserto? Grades depõem concretamente sobre inacessibilidade ao espaço escolar. Precisamos realmente delas? Através de assembléias escolares, da participação coletiva da comunidade escolar, do poder fiscalizador do conselho escolar, contando com a assessoria pedagógica das secretarias de educação, é que se realizam decisões democráticas. As escolas necessitam desenhar seu projeto político pedagógico, em sintonia com a filosofia que sensivelmente determinam para orientar sua prática e gestão, e então constituírem o regimento escolar. O processo tem de ser vísivel, transparente, para que as reinvindicações, justificadas num contexto e experiência real, sejam mais do que trocar lâmpadas, ou pintar portas. A faixa etária dos alunos que fazem os diários os limita na compreensão de alguns fatores determinantes da realidade escolar, e isso tem de ser considerado. Nós, adultos, não podemos nos apropriar literalmente de tudo que manifestam, e temos de entender que a autonomia deles – enquanto capacidade para julgar moralmente suas escolhas, ainda está se fortalecendo. Nosso dever, como educadores é apoiá-los e subsidiá-los para esse fortalecimento. Jamais, cometer a perversidade de usar a manifestação deles como voz das nossas necessidades. Isso seria covardia de adultos. Devemos incentivá-los a sensivelmente perceberem as consequências de suas práticas, a buscarem parcerias nos colegas, a interagirem pelo diálogo franco e direto, sempre que possível. Pois a dimensão das ações que praticamos não pode ser medida em número de comentários ou curtidas que outros publiquem nas redes sociais. As consequências devem nos sensibilizar de que através do que realizamos nossa existência adquire sentido, em harmonia e coerência com a essência do que somos nesse planeta e em nossa humanidade.