Num sábado pela manhã passei conhecendo os Diários de Classe de
Santa Catarina, da Paraíba e da Bahia, publicados em redes sociais.
O ex-aluno Fernando comentou elogiando, então me interessei em ver.
Alguns elogios e outras críticas. Certamente, sem a pretensão de eu
legitimar uma ou outra, quando a manifestação inteligente através
da linguagem se expressa essa é mil vêzes preferível à violência
física. Disse violência física, não contra as pessoas, que é
abominável, mas ao patrimônio público, como em casos de pixação,
de vandalismo e de quebra-quebra. A palavra pode ser perigosa. Forças
repressoras e ditatoriais justificam seus atos pela reação à
manifestação livre das ideias, e isso não é nenhuma novidade.
Direitos humanos, proteção à crianças e adolescentes, respeito à
diversidade são novidades no Brasil. Por detrás dos Diários de
Classe dos alunos, percebo o desvelamento da possibilidade de
interagir coletivamente, trazendo às claras o cotidiano das escolas,
suas necessidades, as mazelas, as vitórias, as qualidades. Há que
avançar no processo. Se o comentário é sobre a mesa do professor
que está quebrada, tem de se pensar que essa mesa seja talvez
desnecessária, por isso se quebrou. Talvez uma poltrona confortável
seja mais adequada e útil, para quem passa 40 ou 60 horas na escola,
do que uma mesa. A grade precisa de conserto? Grades depõem
concretamente sobre inacessibilidade ao espaço escolar. Precisamos
realmente delas? Através de assembléias escolares, da participação
coletiva da comunidade escolar, do poder fiscalizador do conselho
escolar, contando com a assessoria pedagógica das secretarias de
educação, é que se realizam decisões democráticas. As escolas
necessitam desenhar seu projeto político pedagógico, em sintonia
com a filosofia que sensivelmente determinam para orientar sua
prática e gestão, e então constituírem o regimento escolar. O
processo tem de ser vísivel, transparente,
para que as reinvindicações, justificadas num
contexto e experiência real, sejam mais do que trocar
lâmpadas, ou pintar portas. A faixa etária dos
alunos que fazem os diários os limita na compreensão de alguns
fatores determinantes da realidade escolar, e isso tem de ser
considerado. Nós, adultos, não podemos nos apropriar literalmente
de tudo que manifestam, e temos de entender que a autonomia deles –
enquanto capacidade para julgar moralmente suas escolhas, ainda está
se fortalecendo. Nosso dever, como educadores é apoiá-los e
subsidiá-los para esse fortalecimento. Jamais, cometer a
perversidade de usar a manifestação deles como
voz das nossas necessidades. Isso seria covardia de adultos. Devemos
incentivá-los a sensivelmente perceberem as consequências de suas
práticas, a buscarem parcerias nos colegas, a interagirem
pelo diálogo franco e direto, sempre que possível. Pois a dimensão
das ações que praticamos não pode ser medida em número de
comentários ou curtidas que outros publiquem nas redes sociais. As
consequências devem nos sensibilizar de que através do
que realizamos nossa existência adquire sentido, em harmonia e
coerência com a essência do que somos nesse planeta e em nossa
humanidade.