Costumo pensar que a minha
escolha pela Museologia foi feita em causa própria. Decidi estudar novamente
aos 57 anos beirando a aposentadoria depois de ouvir várias opiniões e queixas
sobre o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM. Alunos sem perspectiva
de aprovação, em aparente desmotivação com o estudo, na descrença do
conhecimento como ferramenta para profissionalização, enfim, tudo que tive de superar
para investir na minha formação e que persiste no mundo escolar. Não vou
aprofundar acerca do sistema de ensino excludente que reforça os estereótipos
de incompetência atribuídos a nossa juventude. Combati isso desde sempre e não
foi diferente na Universidade Federal doRio Grande do Sul, onde cursei
primeiramente a Licenciatura em Artes Visuais e depois a Especialização em
Educação profissional. Não é só com jovens, ou velhos, ou pobres, ou
deficientes, ou negros, ou lésbica, gay, bissexual, transexual - LGBTs, ou mulheres, mas com todos que não aparentam
o estereótipo branco machista, classe média, burguês opressor.
Além de testar e constatar minha
competência para aprovação no ENEM, maravilhoso foi saber que minha pontuação
abria possibilidades de ingresso em outros cursos,na área da Arte, em locais
que eu simplesmente adoraria viver, como Ouro Preto e Salvador. Essa oportunidade
aos 20 e poucos anos certamente eu agarraria e me aventuraria sem amarras no
projeto de estudar fora de Porto Alegre. Entretanto, agora, precisei me
conformar com a proximidade da Faculdade de Biblioteconomia de Comunicação –
FABICO, de onde resido, e aqui estou desde 2017. Quem sabe depois, na
aposentadoria, mudo meu rumo?
AS PRIMEIRAS AULAS
No primeiro semestre optei por
cumprir com um número menor de matérias, e fui ampliando no decorrer dos
estudos. Apressando-me lentamente em direção ao amadurecimento deste conhecimento
acerca de Museus e da complexa rede de saberes que o envolve persigo cumprir
com o objetivo a que me propus desde o início:usufruir prazerosamente da
universidade.
AS EXPECTATIVAS SOBRE A HISTÓRIA
DOS MUSEUS
Conhecendo de antemão a metodologia de
ensino, das aulas expositivas e seminários, que é recorrente na UFRGS, não
esperava e não encontrei nada diferente. Com experiência em estudar e ensinar
História da Arte, adquiri alguma facilidade em relacionar tempos e fatos, e
contextualizá-los historicamente, o que tem sido de ajuda ao agregar os eventos
que se relacionam a história dos museus. Independentemente da noção de que a base
do conhecimento, inclusive em História, é tradicionalmente vinculada ao ensino
básico, o patamar para aprendizagem, a meu ver, pode elevar-se em qualquer
etapa da vida.
DESCOBERTAS.SURPRESAS
Retomar os estudos na
universidade após tanto tempo tem sido uma experiência compensadora
especialmente ao conviver com os jovens. Observo colegas estudantes,
compromissados com os estudos, envolvidos com seriedade nas leituras que
realizam e com muito conhecimento. São protagonistas de suas aprendizagens. Encontrei
equipamentos, instalações, espaços de convivência apropriados ao estudo. O
Centro Acadêmico é atuante. Professores cumprem com interesse suas rotinas de
trabalho e demonstram apreço pelo curso.
A maior surpresa não foi
acadêmica, mas política. A UFRGS sempre foi um espaço de pluralismo de
pensamento. Aqui se convive democraticamente na perspectiva dialética
necessária para produzir conhecimento qualificado, e reconhecidamente
valorizado em muitas instâncias das sociedades brasileira e internacional. A sombra
de narrativas fascistas avançando, sobre esse campo iluminado de saber, assombrando
o respeito às contradições históricas, sobre o elevado papel social da UFRGS;
com a perspectiva de governo que promete restringir e desqualificar a educação
brasileira é preocupante e exige além da dedicação aos estudos. Isto nos leva a
defender, manifestando nas ruas os direitos à gratuidade, à qualidade da
universidade pública. Muita mobilização pela frente será necessária para evitar
o já anunciado desmonte das instituições educacionais do Brasil.
Pontos fortes
O curso de Museologia goza de boa
reputação no cenário da UFRGS e na comunidade em geral, haja vista a boa
receptividade nos diferentes espaços culturais a que acessamos como alunos do
curso. Há diversos incentivos para visitas técnicas, viagens de estudos,
participação em palestras.Estudar aqui é bom. A disciplina e o compromisso com o
estudo presencial me motivam a escrever, a ler, querer saber mais. Procuro
equilibrar, na minha posição de aluno experiente, a participação
nas aulas, pois entendo que a idade me chancela uma aparente, e errônea muitas
vezes, credibilidade. Ao mesmo tempo, se minhas intervenções permitirem
problematizar temas com alguma relevância, trazendo diversidade e
multiplicidade de visões ao processo educacional, eu estarei aprendendo
e contribuindo com a Museologia. Afinal o velho e o museu são parentes numa
família onde se respeita o tempo humano.