quinta-feira, 25 de junho de 2009

Michael Jackson - O olhar que se calou.


Quanto mais conheço mais me conheço quanto menos conheço mais me desconheço. Quanto mais vejo mais sou visto.
"Billy Jean…
Remember to always think twice…
I’m the one but the kid is not my son…
Eu tava jogando sinuca uma nega maluca me apareceu com um filho dizendo que o filho era meu"...
Michael Jackson foi o astro mirim da minha puberdade. "One day in your life", "I'll be there" e "Ben" esquentavam nossos corações para “dançar junto” nas reuniões dançantes dos anos 70 em Porto Alegre.
Depois de muitos anos, pude desprender meu olhar POPificado e colonizado, para entender um pouco mais da sua estética quando ouvi em uma fita K-sete com o Caetano Velloso a música Billy Jean mesclada ao samba. (E, os negros que sofrem horrores nos becos do Harlem...)
Nesta madrugada de junho enquanto escuto a rádio alemã da Internet homenageando o artista, não com o silêncio, mas divulgando sua desencarnação há pouco ocorrida, flashes de sua história, e sua música, relembro o que vi, há poucos dias na TV em um programa de dança e reconheço naquele artista uma antecipação do que hoje vemos como expressão da dança de rua urbana e da música negra, como rap, hip-hop e funk. Alimentam-se do pioneirismo que o Rei do POP anunciava. A sintonia do Superstar com a globalização pode tê-lo tornado louco em prol de um mundo mais são? Lembro do comentário de Gilberto Gil quando questionaram sobre Ele, e a resposta surpreendente: se os brancos querem escurecer sua pele nas praias, no verão, por que negar ao negro o branqueamento? Simbolicamente, o desaparecimento desse ícone esconde o desaparecimento daquele homem que é visado, e visto, e olhado, admirado na mesma dimensão em que olha e admira o olho que o observa. Michael Jackson, como em um dos fantásticos vídeos clips remete ao olho egípcio frontal que a tudo observa, nesse jogo de olhar e ser olhado, o que pode levar a uma confusão de personas, e que agora incompreensivelmente se interrompe. Meu coração se aquecia e também ao coração de Michael aquecia para levar adiante sua missão de encantar com seu som genuíno. Essa chama no coração evoluiu ao ponto de alcançar o limite de um estado mais puro, calmo, silencioso, e morno a esfriar aos poucos e literalmente se diluir, evaporar, estar no ar, causar sua morte. Uma homenagem com duas possibilidades: de um grande silêncio ou de uma festa de sons. Tudo menos a indiferença.