segunda-feira, 8 de julho de 2019

Museu Pedagógico

O Museu Pedagógico José Pedro Varela está localizado nas proximidades da Praça de Cagancha, região central de Montevidéu, Uruguai. Este museu é especializado em pedagogia. Como a maioria dos museus no Uruguai, a entrada é gratuita.
 História
O museu foi fundado em 25 de janeiro de 1889 por Alberto Gómez Ruano, semelhante ao Museu Pedagógico de Paris que tinha apenas 10 anos de idade. Surgiu em decorrência da Reforma Vareliana, a reforma educacional uruguaia promovida por José Pedro Varela, cujos fiéis princípios foram: Gratuidade, Secularismo e Obrigatoriedade. Este lugar foi criado como um local de estudo para o magistério nacional. Possui serviços de biblioteca para pesquisas, sala de conferências e concertos. Entre os seus objetivos está o de "divulgar e preservar o acervo museográfico referente à área educacional".



Lentamente, por catálogo, por troca, por meio de escavações arqueológicas realizadas pelo próprio Gómez Ruano, a coleção do Museu foi ampliada, tornando-se modelo na América.A principal função do Museu Pedagógico em sua primeira etapa era servir de laboratório para futuros professores que estudavam no Internato Normal para moças que ocupavam o último andar do prédio.



No piso intermédio, o Museu e a Biblioteca Pedagógica são um instrumento na formação de professores e um meio de divulgar os princípios, métodos e materiais da reforma.

No térreo, com entrada através de Colônia, a Escola para a Aplicação de Jovens Senhoras, escola modelo da Reforma Vareliana, na qual os estudantes do estágio realizavam sua prática.

 





 

Acervo
Possui em seu acervo:
5.000 objetos museísticos
6.500 livros e publicações periódicos
2.000 fotografias
200 moedas e medalhas
500 diapositivos
100 lâminas de vidro,
manuscritos e autógrafos originais de cientistas e personalidades da educação.

  

Referências




ASPERAMELODIA





ASPERAMELODIA
Carlos Asp - 70 anos
            Historicamente as datas demarcam tempos. O registro da passagem do tempo é único para cada momento. Podemos dizer que o dia, o mês e o ano de um acontecimento, convencionalmente, não permitem enganos. Os fatos estão inexoravelmenteligados ao tempo em que ocorrem. Assim é com as pessoas. O momento e lugar de nascimento, o primeiro pensamento, a linguagem, a compreensão dos sentidos, as fases do desenvolvimento sócio cognitivo, as diversas descobertas de si e dos outros. Tudo existe sob a égide do espaço e do tempo. Entretanto, se analisarmos os eventos não apenas pelas datas das ocorrências, mas também através da apreensão de outros elementos: o que comíamos, a que música escutava, se fazia frio ou calor,que roupa nós vestíamos, com quem estava ali, se era noite ou dia, que fase da lua se desenhava no céu, a posição dos outros planetas do sistema solar, os fatos mundiais, do país, do estado, da cidade; é possível afirmar que teremos um espectro ampliado dos episódios. Talvez isso não caiba num texto, nem numa conversa, muito menos numa obra artística, pelo volume de informação que exige de quem a comunica e também de quem a intui.Pois, expandir a percepção requer entendimento por vezes indizível acerca do transitório efêmero que nos cerca.
Acerca do terreno movediço que o apontamento das lembranças na memória registra, devemos observar que:
As pessoas que passam suas vidas lendo e tiram sua sabedoria dos livros são semelhantes àquelas que a partir de muitas descrições de viagens, têm informações precisas a respeito de um país. Elas podem fornecer muitos detalhes sobre o lugar, mas no fundo não dispõem de nenhum conhecimento coerente claro e profundo das características daquele país. Em compensação os homens que dedicaram sua vida ao pensamento são como aqueles que estiveram em pessoa no país: só eles sabem propriamente do que falam, conhecem as coisas de lá em seu contexto e sentem-se em casa naquele lugar. (Schopenhauer, 2010:45)
Ainda assim, por mais que estejamos imersos, impregnados na experiência histórica dos fatos, algum esquecimento irá apagar,nas narrativas, lembranças:
Assim, reconstituo um quadro, mas que é bem mais amplo, e onde me sinto singularmente perdido. Desde esse momento fui arrastado sem dúvida pela corrente da vida nacional, mas apenas senti-me arrebatado. Estava como um viajante sobre um barco. As duas margens passam sob seus olhos o trajeto se enquadra bem nessa paisagem, mas suponhamos que ele seja absorvido por alguma reflexão, ou distraído por seus companheiros de viagem: não se ocupará com aquilo que se passa sobre a margem senão de tempo em tempo; poderá mais tarde lembrar-se do trajeto sem muito pensar nos detalhes da paisagem, ou então poderá seguir sem muito pensar nos detalhes da paisagem, ou então poderá seguir o seu traçado sobre um mapa; assim, encontrará talvez algumas lembranças esquecidas, precisará outras. Porém, entre o país percorrido e o viajante não terá havido realmente contato. (Halbwachs, 1990: 56)
No campo da memória entre uma lembrança e outra, persistem vazios, lapsos, brancos, como arestas invisíveis de um quadrado que inscreve em si uma circunferência. Na arte o que preenche esses espaços é fenômeno de apreensão do objeto pelo público mediado pelo suporte que por sua vez é também receptáculo do pensamento criador do artista. Como descrito nas citações de Schopenhauer e Halbwachs, o valor do conhecimento é revelado nas nuances da experiência coletiva que o afirma Tendo em mente o aprofundamento necessário para compreender/ler exposições em arte é necessário posicionar as condições em que uma determinada exposição ocorre. A obra é elemento preponderante e orbitam ao seu redor os instrumentos, os materiais e as ações que vão sustentar a intenção de apresentação dessa obra.Na arte contemporânea a diversidade de possibilidades da manifestação artística, que rompe com suportes e com cânones imagéticos, que amplia conceitos estéticos e técnicos, inevitavelmente encaminha para aválida multiplicidade de leituras, multiplicidade essa que muitas vezes é desejada por quem produz a arte.
A artista FaygaOstrower, referência estética de Asp, ao narrar sobre sua experiência como educadora defendia a noção de que para que a arte exista é necessário comunicá-la ao publico; ou seja, só uma mente criadora tem a capacidade de produzir sentido ao apreender a expressão criadora. Esse é um pressuposto que desmonta a ideia da arte figurativaque revela prontamente o que representa.Fayga usava o argumento de que o gesto artístico é nunca repetível na mesma medida em que o tempo não volta atrás. As condições em que eles se apresentam, tempo e gesto, são únicos. Você pode estar perseguindo um ideal de representação, um modelo, mas cada vez será uma ação exclusiva, subjetiva e única. É impossível repetir o gesto sem repetir o momento, sem fazê-lo voltar no tempo. No gesto infantil que desenha não há repetição porque sempre há descoberta.Da representação infantil é sabido que os traços identificados em garatujas correspondem a um estágio de apreensão do saber, das coisas, do mundo ao redor na interação com instrumentos que posicionam as crianças em relação ao espaço que ocupam acontecendo no espaço de representação da folha de papel ou qualquer suporte chão pedaço de madeira ou parede da casa. A noção de olhar criador do público na compreensão de que todo gesto artístico é único em aparente repetição, qualificaa leitura sensível de uma exposição em arte.
 A exposição ASPERAMELODIA, comemorativa aos 70 anos de idade do Carlos Asp reafirma e propõe questionamentos sobre imagens e imaginários. Ele pertence à geração de artistas dos anos de 1960, integrou em Porto Alegre o coletivo vanguardista Nervo Óptico - N.O., entre 1976 e 1978, conforme a curadora Ana Albani de Carvalho descreve no texto de apresentação da exposição, que está reproduzido em folder disponível aos visitantes da Pinacoteca.Atualmente vive em Florianópolis. A montagem reuniu desenhos, objetos, escritos, instalações e documentos do artista. Os desenhos e pinturas do salão de acesso estão dispostos na parede fixados com um adesivo especial de forma a manter o suporte das obras,verso de embalagens diversas,no formato original, sem uso das tradicionais molduras ou vitrines envidraçadas. Mantém-se a linha de visão do público expondo agrupamentos de trabalhos que entre si e no conjunto compõem uma espécie de campo reticulado, onde variações de cor, espaço, aproximações e distanciamentos de figuras diversificam o ritmodas formas articuladas visualmente.Uma dasobras está suspensa deixando ver o lado oposto do suporte com imagens de rótulos dos invólucros. Um banco está localizado no centro do espaço.
A maneira de mostrar uma seleção de obras de arte reflete diretamente na curadoria de qualquer exposição, pois é por meio da montagem, além, naturalmente, das obras selecionadas, que o curador vai expor suas ideias. Seja estabelecendo relações formais ou conceituais entre as peças expostas, seja localizando-as de forma estratégica no espaço, a disposição das obras pode resultar numa exposição eficaz, onde os diálogos propostos facilitam a compreensão dos objetos expostos, ou num labirinto de ideias onde o visitante se sente perdido. (Cintrão, 2010:15)
Nas salas contíguas ao salão principal, estão expostas instalações junto de documentos e outras imagens. Imagens florais e de representação de paisagematribuem conotação temática da natureza aosobjetos. Um jardim com flores estampa a coberta.
         Um olho que imagina além do que vê,o espaço tomado pelo movimento das coisas, a passagem do tempo, não o tempo histórico, mas o tempo transitório. A manhã, à tarde, e a noite, a madrugada e a manhã novamente. O movimento circular, a circularidade. Os astros? Dentro, fora,contido, expandido. Campos relacionais? Ocultismo? Necessário o exercício criativo que permita intuir outra compreensão das obras do Asp, para não se deixar levar pela inquietação de que sua obra não importa.
Tradicionalmente o pensamento de Marcel Duchamp tem sido considerado o responsável pelo deslocamento conceitual dos objetos permitindo com que o discurso estético sobreponha-se à poética visual. Movimentos artísticos consagrados pela história da arte reforçam esses argumentos da vanguarda proposta pelo artista no inicio do século XX. O que vemos na obra de Asp não foge ao que Duchamp iluminou, ampliandoa força estética em sua obra justamente com ouso de materiais precários. É evidente que, se o enunciado de Duchamp permanece atual, da mesma forma a reação ao que o artista manifestouainda persiste em grande parte do público frequentador de exposições. Eles consideram a obra de arte como produto para deleite, anestésico com a função de encantar, reproduzindo um mundo de beleza idealizada, mesmo que morto. Ainda quedatada, a arte contemporânea é bastante desconhecida, de forma que fica sujeita a interpretações equivocadas, e baixa aceitação, especialmente na população de menor escolaridade.Nomes como Bispo do Rosário,Pablo Picasso,que dizia perseguir a espontaneidade infantil para a resolução de cadaobra que produziu; Jean Michel-Basquiat,Iberê Camargo e Cy Twonbly entre outros tantos, reconhecidos hoje como ícones,são exemplos de artistas que imprimiram na história da arte seus inconfundíveis modos de expressão utilizando-se de estratégias únicas. Na obra de Carlos Asp é possível perceber seu engajamento com a livre expressão no decorrer do tempo que soube reinventar em cada gesto consequente em obra. A exposição que homenageou o artistanos seus 70 anos é o reconhecimento da comunidade artística de Porto Alegrea sua persistênciaque ousa inaugurar “entre restos” formas de “pensar e agir”.
 Na saída da Pinacoteca Ruben Berta, após visitar a exposição, entramos na crueza da cidade. Automóveis, transeuntes, calçadas, ruas. Todo o caos urbano dessa capital é atmosfera de imersão. Não imaginamos perambular sem rumo ao sabor do vento, seguindo a direção das pessoas, guiados pela livre intuição para onde ir, ou muito menos vamos atrás de onde o sol se põe. Não colocamos o dedo nas paredes enquanto andamos para sentir a aspereza da tinta. Traçamos um destino a cumprir, se mais lento seguimos a pé. Calculamos onde e quando queremos chegar antevendo o que faremos então lá. Não é pressa nem correria, mas simplesmente um jeito de lidar com nossas possibilidades ou necessidades. Enquanto isso, jovem negro é assassinado, alguém descobre o amor, um velho bebe água, alguém perde grana, uma criança chora de fome; um aprendizado, uma conquista, uma queda, um respingo, um rasgo, um som, um tapa, um piscar de pestanas; tudo nos acontece. Ou acontece com eles, que “no eslomismo pero es igual”. Aquele silêncio aterrador, de quem está sem respostas para a desesperança que insiste em combalir nossos esforços, se impõe. Então nós nos sentimos vagando a esmo, mesmo que pareçamos de um jeito automático, cônscios dos próprios passos. Daí é preciso lembrar, da razão/desrazão que possa, como no fazer do CarlsoAsp, alinhar sentidos ainda que num mundo, onde falta sentido ou justiça social, faltas que nos assolam em humanidade e coletividade. Onde o artista encontra energia para persistir se arriscando em uma existência que sabidamente efêmera cada dia mais quer se inventar imortal, e possuir simplesmente, ilusoriamente, garantias enganosas de perenidade?
CINTRÃO, Rejane. As montagens de exposições de arte: dos salões de Paris ao MoMA. In: RAMOS, Alexandre Dias (org.). Sobre o ofício do curador. Porto Alegre: Zouk, 2010.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Vértice. 1990.
SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de escrever. Porto Alegre: L&PM,2010.