sábado, 14 de fevereiro de 2009



A batalha de Waterloo


14 de fevereiro de 2009.
Pessoas no vagão do trem de metro.
Solidão: perceber que eu estava só e que todos ali não trocavam uma palavra. Diferente de outros espaços no mundo ali na escuridão do túnel que atravessava a cidade de Londres eu percebia o que era um silencio cúmplice. Muito meu conhecido. Os cartazes anunciavam um futuro branco com pontos de cor. Uma nova cidade. Isaac Asimov. Um novo mundo. Orwell. “Low Carbon”. Uma promessa a ser colorida. Uma esperança.
Perdi o lugar da Tate Modern. Estava na Tate antiga. Tomei o 77 na direção contrária. Fui parar no subúrbio. Resolvi retornar com trem. Tomei o da linha negra para a estação de Waterloo. Intuito de chegar até a Tate Modern mais rapidamente. Desci para o “undergound”. No subterrâneo de Londres as paredes estavam recobertas por sacos plásticos e tapumes de obras. No vagão nenhum anúncio de estação, sem a voz que anuncia costumeiramente a direção e a próxima estação. Nada. Pelas janelas do vagão apenas uma sombra negra voava do outro lado na velocidade da passagem. O silencio é total. Só, eu grito internamente um pedido de socorro. Não havia palavra, ou resposta, só olhar. Só a mudez dos passageiros. Todos estranhos para si. Não havia duplas, não havia grupos, ninguém tinha o que falar com ninguém ou para quem dizer alguma coisa. Eu encontrei ali minha turma, a turma dos que não tinham com quem falar, com aqueles que fazem seus trajetos contando apenas com si. É muito assustador encontrar consigo mesmo. Pode ser o melhor ou pior momento. Não há porque voltar lá. Lá tive de imaginar o futuro e depois compreendi que a pós-modernidade é a não certeza do tempo. Ali em aqui em Londres onde o passado insiste em avançar futuro adentro e o futuro se anuncia na picnolepsia dos movimentos imperceptíveis meu olhar atravessa essa incerteza. Eu vejo a cinza das luzes, a cidade toda, a comida da Índia, do Japão, da China, do Oriente, da Itália, americana... Tento entender o neoliberalismo. A idéia do mundo é inglesa. O inglês me ensinou como conceber o mundo, seus conceitos. ¿Como não vi isso antes? O que fazer com a felicidade, que possibilidades, que soluções podem existir para fazer desta cidade mais do que um templo de consumo e diversão e beleza? Ela é uma cidade sem grades, mas também um lugar onde a elegância facilmente pode vir a ser vulgar. E, que haja o que se preservar nos seres do subterrâneo. As camadas que nos tornam capazes de sonhar e viver com o sonho...