quinta-feira, 11 de julho de 2019

COISA DE MUSEU

COISA
Objeto é coisa material e pode ser percebida pelos sentidos.
Coisa mental ou física para o qual converge o pensamento, o sentimento ou ação.
Assunto de uma pesquisa.
Agente, motivo, a causa.
Fim, propósito ou realidade apreendida.
Demanda em juízo.
Um postulado matemático, ponto, reta, equação.
Imagem que se forma no sistema óptico.
Do latim objectus, é aquilo que se apresenta aos olhos, obstáculo.
O obstáculo é o objeto pessoal significativo da minha trajetória. É o que me acompanha, e tem relevância. Seu valor é afetivo e serve para falar sobre mim. Assim, objeto de memória, ele poderá ter evocado o sabor da cera do lápis de cor que experimentei na infância. Lápis que riscava a folha branca de papel e que me fazia ver representadas as linhas das tiras de cetim branco trançadas das sapatilhas nos pés e tornozelos de uma bailarina de faces rosadas e saia armada. Minhas irmãs ensaiando o Lago dos Cisnes na sala de estar.Objeto é a saudade de escutar a valsa das Flores da Suíte Quebra Nozes de Tchaikovsky, rodopiando até tontear. Avistar o meu pai amado, olhar para minha mãe eterna, ver meus amigos mais queridos. Tocar a neve e sentir seu silêncio tremendo.
Meu objeto pessoal é meu corpo. E do meu corpo emanam todas as possiblidades e maravilhas sensoriais. O tato, a visão, o olfato, a audição, o paladar, até a intuição, o sonho, as inconsciências, as marcas e dores eprazeres significam importância e valor em minha existência.
Alguém dia desses, me disse quediferentemente do que imaginamos não é o corpo que contém a alma, mas ao contrário, é a nossa alma que vai com opassar da nossa existência aprendendo e apreendendo o corpo. A memória do corpo,a ilusão de um corpo possível:o objeto mais caro em mim. Ele me importa e me define. O corpo é objeto limitado quando na infância nos exige aprender, engatinhar, caminhar, correr, crescer. Na juventude ele é obstaculizadopelas responsabilidades, pelas exigências da maturidade, da autonomia, na inevitável consciência dos erros e acertos. Na velhice o corpo é objeto de cuidado e atenção, na medida em que as fragilidades vão se impondo.
No livro Introdução ao Pensamento Complexo, Edgar Morin descreve sobre o envelhecimento como ausência de morte. Ele explica que quando as células param de morrer elas deixam de se renovar e a velhice então apresenta os seus sinais até a morte do corpo. Sagrado, ao abandonar a vida na sua forma humana ainda permanecerá no planeta sendo ainda evolução, fazendo parte da Terra.A filosofia de Platão narra sobre a cama, que é ideia, cama que é matéria e cama que é representação ilusória. A cama serve ao corpo. Na História o corpo foi torturado, glorificado, moldado e libertado, modificado, genética e esteticamente transformado. Para a Religião o corpo não interessa. Na Arte, Picasso destrói o espaço de representação e os corpos angulosos da primeira pintura cubista impuseram uma nova compreensão estética. A vida é plena de sentidos do corpo nu, em pé, na escuridão, no meio do quarto, num romance de Clarice Lispector. Nos museus os corpos transitam e fruem de objetos que nada significariam não fosse essa presença humana. Os objetos são o meu corpo expresso, pois existem na medida da relação exercida pelo corpo.
Também aos outros meu corpo é objeto, na medida em que minha presença ocupa espaço/tempo/memória. Porque guardamos como objeto de afeto, de desejo, de motivo, de repulsa e de imagem acaba por se definir aquilo que somos coletivamente: o nosso corpo em corporativismo. 

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